sexta-feira, 30 de abril de 2010

5ª Coxilha Nativista - 1985

Pesquisa e Reportagens: Rômulo Seitenfus
Fotos: Acervo Coxilha Nativista


A abertura oficial da 5ª Coxilha Nativista foi realizada nas dependências do Condecruz, contando com presenças de inúmeros convidados especiais e autoridades locais. O prefeito municipal, Dr. José Westphalen Corrêa, recepcionou a todos dando boas vindas ao evento de Cruz Alta que, já era considerado o maior festival de música nativista do estado.
O Secretário de Turismo, Luiz Côrtes Véscia, ao lado do coordenador geral da Condecruz, Odir Carvalho, mais uma vez não mediram esforços para o sucesso do evento. Flavio Marchiori Moura, Arnoni Caldart, Carlos Furian, César Zanchi e Renato Silvera, foram os responsáveis pela coordenação executiva. Wilson Muller e Renato Justi, estiveram frente à coordenação de divulgação e arte.
Luis Von Stein foi o artista plástico que abrilhantou os troféus desta edição.
Na segunda etapa classificatória da 5ª Coxilha, o nível das músicas apresentadas cresceu consideravelmente mas, a grande atração da noite, praticamente roubando o espetáculo, foi o Grupo “Garotos de Ouro”, executando “Prelúdio de Fé no Trigo”, interpretado por Leopoldo Rassier.
Aproximadamente 2.500 pessoas compareceram ao Ginásio Municipal. Igualmente na “Cidade de Lona”, localizada no Parque de Exposições, a reprise das músicas no “Galpão da Tertúlia Livre”, causou o mesmo entusiasmo do público.
O comércio de Cruz Alta, pela primeira vez na história do festival, não teve tanto aumento na demanda durante o período do evento.
Após a apresentação das 12 concorrentes desta primeira noite, o público elevou-se com “O Bugio do Comunismo”, a grande atração. Interpretada por David Menezes Junior, acompanhado pelo Grupo “Os Incomprendidos”.
As pessoas que compareceram ao Ginásio para prestigiar a primeira noite, tiveram a satisfação de assistir, enquanto o corpo de jurados escolhia as classificadas, a apresentação do Grupo de Danças Chaleira Preta. Carlize Maciel e Carmem Anita Lese Hoffmman, foram as responsáveis pela coreografia. Logo após, realizou-se a apresentação da OSPA, com o Grupo Caverá, considerado um dos maiores vocais do estado.
A participação da mulher no movimento nativista começa a tomar proporções. Nesta primeira noite, subiram ao palco Maria Benites e Marlene Pastro.
Com excelente público, os artistas mostraram inúmeras qualidades aos jurados. “Nos Tempos da Vovó”, um xote de Silvio Genro interpretado por ele mesmo, foi a sensação da noite arrancando aplausos, muita risada e vibração dos presentes, não só pela letra da música mas, também pela irreverência do cantor. “Virgem do Trigo”, de Julia Graciela, foi apontada como uma das melhores. A suavidade e graça na interpretação de Julia, comoveu a plateia.
O ano de 1985, além de ter sido importante para a história em diversos aspectos culturais, contribuiu em muitas inovações para a história do festival. Foi nesse ano que nasceu a 1ª Coxilha Piá, que em edições ininterruptas, revelou ao longo desses anos, pequenos artistas que hoje representam a cultura nativista como Arthur Bonilla, Shana Muller e Joca Martins.
Um triste acontecimento ocorreu na noite da 2ª eliminatória, sexta-feira. O jovem Fernando Enio Siqueira Hochmüller, foi vítima de bala perdida. Após assistir as apresentações do Ginásio Municipal, Fernando e seus amigos rumaram para a Cidade de Lona no Parque de Exposições, onde compraram um lote e instalaram sua barraca no acampamento. A forte fumaça e a música alta, mantinham o clima de festa. De repente ouviu-se um tiro e a vítima desmaiou. O barulho da festa e a fumaça, impediam a percepção do ferimento. Ao perceber que algo estava errado, seus amigos o levaram até o hospital Nossa Senhora de Fátima, em Cruz Alta, onde foi encaminhado para uma cirurgia.
Presenças ilustres marcaram a quinta edição. O tradicionalista Paixão Côrtes, o apresentador do “Galpão Crioulo” Antonio Augusto Fagundes e, a família do imortal escritor Erico Verissimo, através da sua esposa Mafalda Volpe Veríssimo e do filho Luis Fernando Veríssimo.
A canção “Diálogo Antes da Morte” foi a grande vencedora.

Música vencedora:

Diálogo Antes da Morte – Luiz Carlos Borges e Carlos Leandro (Cachoeira)
Letra: Luiz Sérgio Metz (Sérgio Jacaré)
Música: Luiz Carlos Borges


Quem vem lá de trás da trincheira
Sou eu com minha bala certeira
Mas eu não tenho nenhuma arma
Perdi a que tinha de contra carga
Tem uma bala cortada em cruz
Quatro pedaços com quatro luz
Pra mim morrer não é tão fácil
Sou batizado, corpo fechado
Tenho no corpo uma cartilha
Escrita a sangue de farroupilha

Pra mim matar é coisa fácil
Tenho direito, to no combate
A tua morte mais essa cova
Serão as provas do desempate

Saio dali junto à trincheira
Quatro estandarte quatro bandeira
Cortada em cruz e junto à trincheira
Brilho brilhando no ar cortando

Bala de vento, bala de fogo
Bala de luz, bala de novo
Bala de novo, bala de luz
Bala de vento, bala de fogo

Mas vem o dia
Claro amarelo
Armando os homens
De bala e ferro

Armando os homens De bala e ferro
Se vem o dia
Claro amarelo

DISCO



LADO A

Diálogo Antes da Morte – Luiz Carlos Borges e Carlos Leandro

Crendices – Rui Biriva

Segredos do Meu Cambicho – João Almeida Neto

Prelúdio de Fé no Trigo – Leopoldo Rassier

Antes do Canto dos Galos – Maria Luiza Benitez e Grupo Fandango

Farrapos – Miguel Marques


LADO B

Bugio do Comunismo – David Menezes Jr. e Os Incompreendidos

Novas Bandeiras – Daniel Torres

Vento Norte – Eracy Rocha

Nos Tempos da Vovó – Silvio Genro

Semente Morena – Rui Biriva

Bailanta – João Almeida Neto



VENCEDORAS

1° Lugar: Troféu “O Carreteiro”
Diálogo Antes da Morte
Letra: Luiz Sérgio Metz (Sérgio Jacaré)
Música: Luiz Carlos Borges
Intérprete: Luiz Carlos Borges e Carlos Leandro (Cachoeira)

2° Lugar: Troféu “Erico Verissimo”
Bugio do Comunismo
Letra e música: Roberto S. Pereira e Mauro R. Ferreira
Intérprete: David Menezes Jr. e Os Incompreendidos

3° Lugar: Troféu “Ana Terra”
Vento Norte
Letra: Dirceu Alves Abrianos
Música: Airton Pimentel
Intérprete: Eracy Rocha

4° Lugar: Troféu “Pedro Missioneiro”
Prelúdio de Fé no Trigo
Letra e música: Jorge Nicola Prado
Intérprete: Leopoldo Rassier e Os Garotos de Ouro

5° Lugar: Troféu “Bibiana”
Segredos do Meu Cambicho
Letra: José Atanásio Borges Pinto
Música: Dorotéo Fagundes
Intérprete: João Almeida Neto


PRÊMIOS

Melhor Intérprete: David Menezes Jr.
Melhor Instrumentalista: Gastão Villeroy
Melhor Pesquisa: Prelúdio de Fé no Trigo
Melhor Indumentária: Adair de Freitas
Música Mais Popular: Bugio do Comunismo
Melhor Arranjo: Novas Bandeiras
Melhor Conjunto Vocal: Canto Livre Melhor Tema Sobre a Revolução Farroupilha: Farrapos






4ª Coxilha Nativista - 1984




Pesquisa e Reportagem: Rômulo Seitenfus
Foto: Acervo Coxilha Nativista

A 4ª Coxilha Nativista foi realizada em 1984, sendo considerado em toda a história do evento, o ano de maior qualidade na questão musical. Mais de 270 composições foram inscritas. Participaram 36 músicas e 11 gêneros disputaram os troféus. Chimarrita, valsa, milonga, vanera, toada, canção, xote, bugio, rancheira, polca e toada milongueira.
A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre – OSPA - apresentou um repertório de músicas nativistas na abertura, pela primeira vez no palco de um festival nativista.
A mesa da Câmara Federal, por intervenção do deputado federal Amaury Müller, liberou uma verba de CR$ 3 milhões em favor do nativismo regional.
Os troféus da 4ª Coxilha foram confeccionados pelo artista plástico cruz-altense Luis Aléssio Rubin. O escultor produziu estatuetas estilizadas, diferente dos anos anteriores que representavam figuras humanas. As premiações eram personagens da literatura regional, como as criaturas de Erico Verissimo, representadas pelas imagens de Ana Terra e Capitão Rodrigo. A Comissão Central da Coxilha entendeu que, nessas estatuetas eram cometidas algumas incoerências principalmente na indumentária desses personagens, não por parte dos artistas que produziram os troféus, mas pelos livros ou autores usados como referência. Há o exemplo do personagem Capitão Rodrigo, de Erico Verissimo, que chegou ao povoado de Santa Fé por volta de 1828, vestindo um Salman militar e uma bombacha. Mas, pelos registros históricos, a bombacha apareceu no Rio Grande do Sul somente em 1865 durante a Guerra do Paraguai. Para evitar esse tipo de disparidade nos aspectos culturais, a comissão organizadora do evento optou por troféus estilizados.
Outra modificação na quarta edição do ano de 1984 foi em relação ao símbolo do evento, o “Gaúcho Correntino”. A figura do gaúcho sentado tocando um violão manteve-se durante as três primeiras edições como parte da divulgação do evento. A partir da 4ª Coxilha a Comissão Cultural entendeu que, o tipo retratado simboliza muito mais o gaúcho correntino e o gaúcho platino, do que o tipo riograndense, dos pampas. A forma do símbolo permaneceu a mesma, mas com uma estampa focada no pampa riograndense, servindo de modelo Beto Barcelos, do grupo musical nativo cruz-altense Canto Nativo, hoje figura conhecida por contribuir com a história da Coxilha. Seu nome está marcado em diversas premiações do festival.
A decoração do Ginásio Municipal foi assinada por Carlitos, de Santa Maria, que pintou três painéis no fundo do palco retratando temas gauchescos.
Polca de Relação, de Elton Saldanha e João de Almeida Neto, não agradou o público. Recebeu vaias durante a apresentação, mas foi a grande vencedora. A música, em versos de amor, transpõe a disputa pela conquista da mulher amada. O segundo lugar classificou-se a música mais polêmica da história da Coxilha Nativista. Morocha, uma rancheira de autoria de Mauro Ferreira e Roberto Ferreira, de Santa Maria. Interpretada por David Menezes Júnior e com acompanhamento do Grupo Os Incompreendidos, a música também recebeu o troféu Lenda da Panelinha por ser considerada a mais popular, além dos vários prêmios que, num total de cinco, também a fizeram campeã desse festival: Troféu Romano Zanchi, oferecido por um júri especial da imprensa de Cruz Alta à Música Mais Popular, troféu Capitão Rodrigo, para o Melhor Intérprete, David Menezes Júnior, e Troféu Grazzito para a Melhor Indumentária com Os Incompreendidos.
A música Morocha foi alvo de críticas por boa parte das mulheres presentes nas mesas e arquibancadas do Ginásio Municipal. Por outro lado agradou parte do público masculino. Dividindo reações na plateia, grande parte dela protestava contra a letra, que pode ser interpretada como uma sátira ao machismo exagerado. A repercussão da polêmica foi tamanha e o assunto caiu nas graças dos jornalistas de todo país. O programa televisivo “Fantástico”, da Rede Globo, divulgou a Coxilha Nativista e o tema do machismo. A partir desse momento o festival passa a ter projeção nacional e a música torna-se a mais marcante da história das Coxilhas.
A pesquisadora Maria Elisabeth Vescia de Azambuja, mestra em História Regional, analisa a música.
- Nesta composição, tematiza-se a supremacia masculina que também pode ser interpretada como uma sátira ao comportamento excessivamente machista do homem. A interlocutora do protagonista é uma égua sobre a qual ele lança um alerta em forma de ameaça, caso ela não se submeta ao seu jugo. Trata-se de uma letra polêmica onde o domador sugere que os mesmos métodos utilizados para a doma do animal redomão - como maneia nas patas, pelego na cara e surra de mango - sejam empregados para a dominação da conduta rebelde da mulher, ignorando a diferença existente entre as duas personagens – interpreta a pesquisadora.
Para o intérprete, David Menezes Jr., não houve outra música com a força de Morocha.
- Morocha foi um momento único. Em 1984 Mauro Ferreira e Roberto Ferreira me entregaram Morocha para que defendesse, eu entreguei Morocha para a Coxilha de Cruz Alta, o povo de Cruz Alta entregou Morocha para o Rio Grande e aí se foi para o Brasil e para o mundo. O momento único dos festivais, o momento único da minha carreira. Jamais uma composição alcançou voos tão altos. Jamais na história uma música provocou tanta polêmica. Queira ou não, Morocha é a grande música de todos os tempos da Coxilha Nativista, o melhor festival do Rio Grande do Sul. A Coxilha tem músicas para ficarmos um mês ouvindo. Mas igual Morocha, ah não tem – emociona-se o intérprete.
Perguntado sobre o sentimento ao ouvir as reações do público naquele ano de 1984, no momento em que defendia a música no palco, o intérprete responde.
- O normal seria não absorver tudo isso. É um momento em que tu estás defendendo uma música num festival, estás cumprindo um regulamento. A gente está nervoso, mas com Morocha foi o contrário. Houve uma interação tão grande que conseguimos sentir todas as reações do público e curtimos isso. Morocha não foi uma música que chegou no palco e foi apresentada. Morocha aconteceu – expressa David Menezes Jr.
Para o produtor Ayrton dos Anjos, que na época representava a Som Livre no Brasil, o tema da música chocou o público e mexeu com a sociedade.
- Em 1984 David Menezes Jr. passou uma emoção enorme com uma música diferenciada pelo tema que era quase uma agressão na época para a mulher. Um estado como o Rio Grande do Sul, considerado por outros centros do país como um estado de machões, pelo gauchismo. A música veio de encontro para os feministas e a mídia transmitia o evento na época para todo o Brasil. Eu fazia parte e era um dos jurados o Paixão Côrtes. Ele estava em uma situação complicada. Se votasse em Morocha por ser a Mais Popular causaria um problema e se não votasse, o público se revoltaria. Ele pediu a minha opinião e eu disse que achava uma situação difícil para os jurados mas a música entrou. Quando retornamos de ônibus para Porto Alegre, tomamos um táxi ao chegar na capital. O chofer olhou para trás, reconheceu o Paixão e disse a ele: “Seu Paixão, o senhor não sabe o que aconteceu. Ouvi no rádio ontem. Um cara que bate na mulher com os ‘pelego’ e tal. Eu vou comprar o disco. E aí seu Paixão, o que o senhor acha que vai acontecer?”. Foi aí que o Paixão colocou as mãos na cabeça e eu disse a ele: “Paixão, aconteceu. Vai ser um sucesso!”. Imediatamente mandei fazer o disco e a própria direção da Som Livre me parabenizou dizendo que havia vendido 35.000 cópias somente na primeira semana, depois esse número aumentou consideravelmente – conta o produtor.
Paixão Côrtes é o homem que serviu de modelo para o “Laçador”, a estátua símbolo do Rio Grande do Sul. Além dele, também foi presença indispensável, Antonio “Nico” Augusto Fagundes, apresentador do Galpão Crioulo, programa da RBS TV. Ele comandou no palco do festival, a apresentação de grupos como “Oigalê, com Adair de Freitas e Nelcy Vargas, “Os Campeadores”, de Edson Otto, Elton Saldanha, João de Almeida Neto, Mário Barbará, Bonitinho (integrante de Os Garotos de Ouro), e o pequeno Fábio Furian, de Cruz Alta, com sua gaita ponto para interpretar um fandango de sua autoria. Maria Luiza Benites e José Fontella foram os responsáveis pela apresentação da 4ª Coxilha Nativista.
A Comissão Julgadora, composta por integrantes de alto nível, talvez não tenha realmente agradado ao público presente, como sinalizavam as vaias de contrariedade. Ao escolher Polcas de Relação como a grande vencedora, a premiação seguiu critérios que definiram a quarta edição como a melhor da história até então. Entre os jurados estavam o maestro da OSPA, o alemão Alfred Hans Otto Hulsberg, Daniel Morales, uruguaio, arranjador, músico, compositor e pianista, participante de júris em vários festivais nativos do estado, Paixão Côrtes, conhecido folclorista e pesquisador sobre nossas tradições e costumes, tendo posteriormente sua imagem emprestada para a obra do escultor Antônio Caringi, na capital gaúcha. Jerônimo Jardim, cantor e compositor de destaque em âmbito nacional, José Lewis Bicca, compositor, músico e pesquisador e dirigente na época do grupo “Os Angueras” de São Borja, classificado em diversos festivais nativistas.
Em todas as noites da 4ª Coxilha, o público acotovelou-se nas arquibancadas do Ginásio Municipal. O bom trabalho realizado pela Polícia Militar, evitou maiores incidentes.
A 4ª edição foi de fato a mais marcante da história da Coxilha Nativista. O disco, que costumava chegar meses após o término do festival, naquele ano estava sendo vendido nas lojas sete dias após a finalíssima. Ayrton dos Anjos, o popular Patinete, produtor da Som Livre - gravadora da Rede Globo que naquele ano distribuiu os discos - teve de agir rápido para aproveitar a polêmica que fervilhava no país, batendo o recorde de vendas de discos de festivais no Rio Grande do Sul.



Premiação da 4ª Edição da Coxilha Nativista - 1984:

1° Lugar: Troféu “O Carreteiro” – Polca de Relação
2° Lugar: Troféu “Erico Verissimo” – Morocha
3° Lugar: Troféu “Bento Gonçalves” – Morada
4° Lugar: Troféu “Pepe” – Gaitita
5° Lugar: Troféu “Chimarrão” – Palavra Bem Dita

Premiação Especial

Melhor Intérprete: Davi Menezes Jr.
Melhor Conjunto Vocal: Edson Otto e Os Campeadores
Melhor Instrumentalista: Ricardo Pereira
Melhor Arranjo: Peão Ponteiro
Melhor Indumentária: Os Incompreendidos
Música Mais Popular: Morocha

Músicas Vencedoras da 4ª Coxilha Nativista
1º Lugar
Polca de Revelação – Elton Saldanha e João Almeida Neto
(Elton Saldanha)

Num fandango de campanha
Entre canha e cantoria
Na roda o povo se assanha
Para os versos de porfia

Canta um verso, cantador
Canta um verso
Canta um verso de amor

Não namoro teus cabelos
Nem o brinco das “oreia”
Namoro teu lindo “zóio”
Debaixo da “sobranceia”

No trejeito da cordeona
As “siá donas” temporonas
No compasso das choronas
Procurando um folgazão

As miradas de queixumes
Jogos desfiando perfumes
Pescada de vagalumes
Braseiros no coração

Eu te miro, tu me bombeia
Só neste chove não “móia”
Se tu não quer adoçar minha vida
O mel de “abeia”
Então por que que tu me “óia”?

Com manhas de rodilhudos
Um xirú “carca” o garrão
Corta a marca aposta tudo
E se perde nas relação

Quando eu canto
Eu me “alembro”
Da estância dos “ocalitro”
Não bebo leite de cabra
Só de nojo do cabrito

Canta um verso cantador
Canta um verso
Quem sabe encontramos um par

Canta um verso cantador
Canta um verso
Vale a pena cantar



2º Lugar
Música Mais Popular

Morocha – Davi Menezes Junior e Os Incompreendidos
(Mauro Ferreira e Roberto Ferreira)

Não vem Morocha, te floreando toda
Que eu sou manso e esparramo as garras
Nasci no inferno, me criei no mato
E só carrapato é que em mim se agarra.

Tu te aprochegas, rebolando os quarto
Trocando orelha, meu instinto rincha
E eu já me paro todo embodocado
Que nem matungo quando aperta a chincha.

Aprendi a domar amanunciando égua
E para as “mulher”, vale as mesma “regra”.
Animal, te para, sou lá do rincão!
Mulher pra mim é como redomão:
Maneador nas patas e pelego na cara...

Crinuda velha, não escolho o lado
Nos meus arreios, não há quem peliche
Tu incha o lombo, te encaroço o laço
Boto os cachorros e por mim que abiche.

Não te boleia que o cabresto é forte
O palanque é grosso, senta e te arrepende!
Sou carinhoso mas incompreendido
É pra o teu bem, vê se tu me entendes

Disco da 4ª Coxilha Nativista – 1984
(Foto do disco)

LADO A

1- Polca de Relação – Elton Saldanha e João Almeida Neto
(Elton Saldanha)
2 – Palavra Bem Dita – Mário Bárbara e Victor Hugo
(Sérgio Napp e Mário Bárbara)
3 – De Já Hoje – Adair de Freitas e Grupo Comparsa
(Adair de Freitas)
4 – Morada – Eracy Rocha
(Sérgio Napp e Fernando Cardoso)
5 – Trote – Luiz Fernando Smaniotto e Grupo Canta Piá
(Milton Magalhães)
6 – Peão Ponteiro – Ivo Fraga
(Mauro Sérgio Moraes e Sergio Rojas)

LADO B

1 – Morocha – Davi Menezes Junior e Os Incompreendidos
(Mauro Ferreira e Roberto Ferreira)
2 – Gaitita – Ivonir Machado e Os Garotos de Ouro
(Cigano e Juliano Trindade)
3 – Marca Saudade – Duo Manancial
(Antonio Augusto Ferreira e Celso Campos)
4 – Vento do Sul – Edson Otto e Os Campeadores
(Carlos Alberto Clotz e João Pereira)
5 – Repartindo – Elton Saldanha
(Elton Saldanha)
6 – Querência da Serra – Josete Siqueira
(Pedro Canisio Braun e Valdomiro Maicá)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

3ª Coxilha Nativista - 1983

Pesquisa e Reportagens: Rômulo Seitenfus
Fotos: Acervo Coxilha Nativista



O brilhantismo da primeira noite foi das melhores, como estava sendo esperado. A solenidade oficial de abertura contou com a presença do prefeito Dr. José Westphalen Corrêa e do Secretário de Turismo Luis Cortes Véscia, além da participação especial do tradicionalista Jaime Caetano Braum, que declamou homenageando os organizadores e a cidade de Cruz Alta. O protocolo seguiu com a apresentação de mais 12 músicas.
No Ginásio Municipal, a decoração impressionou o público. Assinada pelo artesão e artista plástico Roberto Zago, foi considerada uma das mais belas da história da Coxilha. A partir dessa edição, os decoradores passaram a carregar visualmente o palco. Com mais de dois metros de altura, uma réplica de galpão, árvores, folhagens, um poço artesiano, aramados e uma cascata viva.
Os troféus foram confeccionados em madeira pelos artistas plásticos Von Stein e Luis Rubin.
Realizada de 21 a 24 de Julho de 1983, a primeira noite de Coxilha foi movimentada. Elementos aproveitaram-se da segurança concentrada nos locais do evento, agindo impiedosamente no centro da cidade. Foram depenados vários automóveis, sendo roubados aparelhos de som, acessórios, equipamentos e documentos. As declarações começaram a chegar, ainda na noite de quinta-feira, primeira do evento. Um carro foi levado do local pelos assaltantes.
Paralelamente à realização da III Coxilha foram realizadas exposições de artigos nativistas, artesanato e artes plásticas. Esportes como o Jogo do Osso e o Futebol de bombacha cumpriram a tradição. A Secretaria de Turismo lançou o Concurso de Vitrines e a Loja Grazziotin foi a vencedora.
No ginásio, a superlotação congestionou os ambientes. A imprensa não teve muito espaço para trabalhar. As rádios tiveram as aparelhagens nas mesas disponíveis, comprimindo-se umas com as outras. Os repórteres tiveram dificuldades para movimentarem-se, diferente dos dois anos anteriores, tendo passagem livre entre os jurados, o público e a frente do palco.
A Comissão Julgadora foi integrada pelo poeta Aparício Silva Rillo, músico Delvio Oviedo, de Porto Alegre, Paulo Heitor Fernandes, de Porto Alegre, Milton Monte, de Santa Maria, Artidor Roque, de Passo Fundo, Angelino Alves, de Cruz Alta, Sônia Abreu, de Júlio de Castilhos, Emerson Vieira da Rosa, de Cruz Alta e José Gonzaga Lewis Bicca, de Santa Maria.
Na primeira noite, fase local e 1ª Eliminatória das músicas, foi apresentado um show de intervalo com Luiz Carlos Borges e Ribamar Machado. Na segunda noite, fase regional, o show de intervalo foi de Victor Hugo, Elton Saldanha, Borghetinho e Chicão. Chegada ao final da terceira noite de evento e finalíssima, o povo contestou a qualidade das músicas concorrentes em relação aos dois anos anteriores, embora a maioria dos visitantes tenha dado nota oito para a organização do evento, superior ao demais festivais nativistas.
O júri escolheu a música João da Madrugada. A premiação foi recebida pelo autor e intérprete Paulo Silva.
Dois dias após o encerramento do festival, o prefeito José Westphalen Corrêa e o secretário de Turismo, Luiz Cortes Vescia, denunciaram oficialmente à polícia, a falsificação de diversos ingressos da III Coxilha Nativista. Aproximadamente 150 cópias foram entregues na entrada do evento. Duas pessoas foram detidas e alegaram terem comprados de terceiros.
Os jornais da capital deram ênfase, referindo-se ao evento como o maior festival estadual em número de público e participação popular.

Vencedoras da 3ª Coxilha Nativista – 1983

1º Lugar: JOÃO DA MADRUGADA, de Paulo Silva, com Neto Fagundes e Chico Barcellos – Troféu O CARRETEIRO
2º Lugar: O BOCO, de Nilo Bairros de Brum, com Eraci Rocha, Lúcio Yanel, Talo Pereyra e Antão Barros – Troféu BENTO GONÇALVES
3º Lugar: EVOCAÇÃO, de Jorge Nicola Prado e Beto Barcellos, com Beto Barcellos e Grupo Canto Nativo – Troféu PEPE
4º Lugar: AMIGOS, de Nenito Sarturi e Milton Magalhães, com Nenito Sarturi , Adilson Moura e Grupo Canto Piá – Troféu CHIMARRÃO
5º Lugar – TIA CORRUCHA, de Antônio Carlos Machado e Luiz Bastos, com Oristela Alves e Grupo Mundaréu – Troféu TROPEIRO

Premiação Especial

Melhor Intérprete – Troféu CAPITÃO RODRIGO – Neto Fagundes
Melhor Vocal – Troféu ANA TERRA – Grupo Vocal Irapuru
Melhor Instrumental – Troféu PEDRO MISSIONEIRO – Grupo Canto Nativo
Melhor Pesquisa – Troféu GRAZZITO – Grupo Gente da Terra
Música Mais Popular – Troféu “LENDA DA PANELINHA” – BUGIU QUERENDÃO de João Jarbas do Nascimento e Angelino Rogério com José Anversa e Gruo Gente da Terra.


A Grande Vencedora:

João da Madrugada – Euclides Fagundes Neto e Chicão Barcellos
(Paulo Silva)

Levava
No peito um sonho
No canto
Um grito de paz

Nas mãos
Levava poesias
Pro tempo então germinar

Enrolado no seu poncho
Varava a noite campeira
Fazendo versos solito
Pra sua estrela parceira

Se é forte o vendo da vida
Se esconde numa pajeada
E quando o sol se despenca pra vida
Poeta faz chimarreada

Por isso o mundo fez
Pra João a madrugada

João se vai, se vai
João se vem, se vem
Solito na madruga
Cantando sem ter ninguém
E o tempo vai geando
A aba do seu chapéu
E o João da Madrugada
Vira a estrela lá no céu
E o João da Madrugada
Vira a estrela lá no céu

João se vai, se vai
João se vem, se vem
Solito na madruga
Cantando sem ter ninguém
Se a noite cai uma estrela
Triscando o céu em pajeada
É o João que está voltando
Pra cantar na madrugada
É o João que está voltando
Pra cantar na madrugada


O Disco


LADO A

João da Madrugada – Euclides Fagundes Neto e Chicão Barcellos
(Paulo Silva)

A Carreta – Grupo Canto Nativo
(Serrano – Doró)

Água Abaixo – Renato Serafim Jr. e Grupo Vocal Irapuá
(Lauro Machado Neto – Luiz Bastos)

Amigos – Nenito, Adilson Moura e Grupo Canto Piá
(Nenito – Milton Magalhães)

Milonga – Elton Saldanha e Euclides Fagundes Neto
Participação Especial: Sérgio Rojas
(Elton Saldanha)

Monjolo – Miguel Marques, João Almeida Neto e Grupo Vocal Irapuá
(Manuel Vargas Loureiro – Miguel Marques)

LADO B

O Bocó – Eraci Rocha, Lucio Yanel, Talo Pereira e Antão Barros
(Nilo Brum)

Bugiu Querendão – José Antonio e Grupo Nativo Gente da Terra
(João Jarbas do Nascimento – Angelino Rogério)

Tia Corrucha – Oristela Alves e Grupo Mundaréu
(Antonio Carlos Machado – Luiz Bastos)

Martim Pescador – Wilson Paim e Grupo Os Jarus
Participação Especial: Valdir Santos
(Adroaldo Mendes – José Vergílio de Almeida Leães)

Evocação – Beto Barcellos e Grupo Canto Nativo
(Cigano e Luiz Roberto de Oliveira Barcellos)

Peão Veríssimo – Néri Freitas e Grupo Vocal Irapuá
(Pirilampo – Neri Freitas)

2ª Coxilha Nativista - 1982

Pesquisa e Reportagens: Rômulo Seitenfus
Fotos: Acervo Coxilha Nativista



Já inserida no contexto cultural tradicionalista do Rio Grande do Sul – devido ao sucesso da primeira edição – a Segunda Coxilha Nativista realizou-se nas noites de 29 de julho a primeiro de agosto de 1982, no Ginásio Municipal. Com capacidade para 5.000 pessoas, o ambiente ficou superlotado durante as noites do evento.
A decoração foi assinada pelo secretário da Agricultura, Luiz Carlos Cunha, que contou com boa infraestrutura e equipe formada por eletricistas, pintores, carpinteiros, jardineiros e encanadores.
A “Cidade de “Lona” foi estruturada no Parque de Exposições do Sindicato Rural. Promovida pela Prefeitura Municipal local, na gestão do prefeito municipal Carlos Pompilio Schmidt, estiveram na Comissão Organizadora do evento, a Secretária de Educação Ilse Flores Assunção, o Secretário de Turismo Adão Leite de Oliveira, e o Secretário-Geral Valdir da Rosa. À frente do departamento Cultural estiveram Angelino Alves, Blair da Silva Carvalho e Alba Alice Bonilla.
Para a pré-seleção, foram inscritas 150 músicas. Na primeira noite, fase local, o corpo de jurados escolheu quatro entre nove participantes (o décimo não compareceu). Apesar de um dos concorrentes não ter conseguido manter a afinação, os demais apresentaram bom nível. Na segunda noite, fase local, foram executadas as dez últimas classificadas da terceira eliminatória. Na última noite, fase final e estadual, desfilaram para o público, as doze músicas finalistas.
O júri foi composto por Nilton Monti, organizador da III Tertúlia de Santa Maria, Sônia Abreu, pesquisadora, folclorista e professora de música da cidade de Júlio de Castilhos, Beatriz Leidner de Castro, professora, veterana de júris e poetisa de Porto Alegre, José Fernando da Silva Santos, do Grupo Guará e professor de canto de Porto Alegre e Angelino Alves, Presidente de Comissão Artístico-Cultural, pesquisador, participante da primeira edição da Coxilha Nativista e da Tropilha de Ajuricaba.
“Terra Saudade” foi a grande vencedora. A música tornou-se ao longo da história, a “menina dos olhos” de todos os cruz-altenses. Conhecida por todos na terra de Erico Verissimo, dificilmente encontra-se alguém, ainda nos dias de hoje, que não saiba cantá-la. De Horácio Côrtes e Milton Magalhães, interpretada por Adilson Moura e os Grupos Canto Piá e Reduções, a vencedora é sempre lembrada nos principais eventos que elevam Cruz Alta como homenageada.
A gravadora Poligram lançou o CD oficial.


Música Vencedora

Terra Saudade – Adilson Moura e os Grupos Canto Piá e Reduções
(Horácio Côrtes – Milton Magalhães)

No alto da serra um dia
Uma alta cruz foi plantada
Junto a capela fundada
Pelos nossos ancestrais

E no chão cheio de vida
Nasceu uma terra querida
Cruz alta dos trigais

Quem bebe a água da fonte
Carrega a cruz da paixão
Esse é o pealo derradeiro
Pera aquecer nesse chão

Cruz Alta da Panelinha
Tem dita fonte encantada
Quem bebe aqui faz morada
Eu que em teu seio nasci

Vou mergulhar em tuas águas
Para afogar minhas mágoas
Por estar longe de ti

A minha infância gaudéria
Entre teus campos dourados
Em meio a bois e arados
Que tristeza já passou

Hoje as picadas no mato
São corredores de asfalto
Que o progresso te legou


Premiações:

Primeiro Lugar – TERRA SAUDADE, de Horácio Côrtes e Milton Magalhães, com Adilson Moura e os Grupos Canto Piá e Reduções
Segundo Lugar – Teatino, de Elton Saldanha, com o autor
Terceiro Lugar – Maleva, de Thomaz Barcelos e Elton Saldanha, com Eraci Rocha e Grupo Lichiguana
Quarto Lugar – Cantigas, de Rubens Dario Soares e Algacir Costa, com o Grupo Os Fronteiriços
Quinto Lugar – Mate Companheiro, de Leonel Colvero e Luiz Bastos, com Adilson Moura e Grupo Piá de Arte Nativa

Premiações Especiais:

Melhor Intérprete: Adilson Moura – Troféu Capitão Rodrigo
Melhor Vocal: Troféu Ana Terra
Melhor Instrumental: Grupo Lichiguana – Troféu Pedro Missioneiro
Melhor Pesquisa: Tarefeiro dos Hervais – Troféu Erico Verissimo
Melhor Indumentária: Cantores dos Sete Povos – Troféu Grazzito
Música Mais Popular: Olha o Xote, de Daniel Oliveira e Léo Ways, com o Grupo In Natura

O Disco




LADO A

Olha o Xote – Grupo In Natura
(Daniel Oliveira – Léo Wayhs)

Teatino – Elton Saldanha
(Elton Saldanha)

Vento Norte – Luiz Fernando Smaniotto e Cantores dos Sete Povos
(Telmo de Lima Freitas)

A Morte do Peão Constancio – Adilson Moura e Grupo Vocal Irapuâ
(Dilan Camargo – José Camargo)

Canção de Estrada – Dorotéo Fagundes e Grupo Porá
(José Villela – Dorotéo Fagundes)

Alento – Nenito e Grupo Nativo Reduções
(Nenito – Nilton Sica Magalhães)

LADO B

Terra Saudade – Adilson Moura e os Grupos Canto Piá e Reduções
(Horácio Côrtes – Milton Magalhães)

Maleva – Eraci Rocha e Grupo Lichiguana
(Thomas Barcellos – Elton Saldanha)

Mate Companheiro – Adilson Moura e Grupo Piá de Arte Nativa
(Leonel José Colvero – Luiz Bastos)

Cantigas – grupo dos Fronteiriços
(Rubens Dario Soares – Jesus Algacir Costa)

Faz de Conta – Luiz Fernando Smaniotto e Cantores dos Sete Povos
(Telmo de Lima Freitas)

Chaleira Preta – Grupo Nativo Gente da Terra
(Rubens Dario Soares – Angelino Rogério)

1ª Coxilha Nativista - 1981





Pesquisa e Reportagens: Rômulo Seitenfus

Fotos: Acervo Coxilha Nativista


A primeira edição do festival foi realizada no ano de 1981 na sede do antigo “Cine Rio”. A partir desta data, passou a acontecer todos os anos, como importante evento da terra de Erico Verissimo. Olimpio Copetti foi o responsável pela decoração do ambiente. Para compor a ornamentação, pesquisou a história do Rio Grande do Sul, inspirando-se em características do período de 1720 a 1860, resgatando os principais usos e costumes da época. Foi no couro que Copetti encontrou a fidelidade artística. Os couros Cru, Capim, Santa Fé e Taquaruçu, eram muito usados na construção de ranchos daqueles séculos. Além desse material, foram também utilizados capim, palmeira e taquara para a construção de um “bolicho” de campanha, instalado no palco de apresentação das tertúlias. Os locais decorados por Olimpio foram o bar, o pórtico de entrada, o rancho de recepção e o Parque de Exposições.
A primeira noite, fase local do festival, causou surpresa ao povo cruz-altense que não esperava o sucesso do evento. O público superlotou o “Cine Rio”. O local, que possuía capacidade para 1.300 lugares, teve de acolher aproximadamente 2.000 pessoas que mantiveram-se presentes até o último momento do encerramento. Além das apresentações dos concorrentes, shows animaram o público como Pedro Ortaça e Grupo Pesquisa, de Santa Maria. Renato Borghetti foi presença consagrada, tocando em tres grupos.
Na segunda noite, nem mesmo o atraso irritou a plateia. O público ansiava pelo início da fase regional.
O festival foi marcado por uma tragédia no acampamento do Parque de Exposições. O jovem Gustavo Simões Lopes, da cidade de Pelotas, passou mal por envenenamento e foi levado às pressas até o Hospital Nossa Senhora de Fátima, onde veio a falecer.
Intensa e histórica, a primeira edição do evento ficou gravada na memória dos cruz-altenses. A qualidade das apresentações marcaram o alto nível do evento, com destaque também para a organização. A Comissão Organizadora viu a Primeira Coxilha conquistar a plateia com êxito, principalmente ao que se refere à qualidade das músicas apresentadas, e a distribuição dos prêmios que coincidiu com a satisfação dos aplausos, embora sob protestos de alguns grupos participantes.
A Comissão Julgadora foi composta por José Vassuer, letrista e capataz da Estância Minuano, professor Nair Vieira Soares, tradicionalista e estudioso do folclore rio-grandense, Mário Barbará, músico de São Borja, Milton Souza, pesquisador e apresentador do programa “Hora da Sesta”, de Uruguaiana e Laurinha Garcês, professora de música, intérprete de músicas regionalistas e representante do Departamento Cultural da Secretaria de Turismo de Passo Fundo.
Das 150 composições inscritas, 27 foram selecionadas e constituíram as tres eliminatórias em fase local, regional e estadual. Léguas de Solidão é a grande vencedora.


Vencedoras da Primeira Coxilha Nativista – 1981:

Melhor Pesquisa – Velho Tripeiro – de Anildo Lamaison de Moraes, Troféu “Erico Verissimo” Intérprete Beto Barcellos e Grupo “Por do Sol”

Melhor Conjunto Instrumental – Grupo Horizonte, Troféu “Pedro Missioneiro”

Melhor Intérprete Masculino – João de Almeida Neto, Troféu “Capitão Rodrigo”

Melhor Intérprete Feminino – Oristela Alves, Troféu “Ana Terra”

Música Mais Popular – Gaita Gaudéria, de Horácio Côrtes e José Sarturi (Nenito), com o Grupo Nativo Reduções

A Grande Vencedora – “Léguas de Solidão” de Humberto Gabi Zanata e Luiz Carlos Borges.






A Grande Vencedora

Léguas de Solidão

Letra: Humberto Gabbi Zanatta
Música: Luis Carlos Borges
Intérprete: Luis Carlos Borges e Grupo Horizonte


Em andanças por caminhos
Fez sua vida carreteando
O próprio destino de peão.
Cruzou sanga, cruzou mar,
Pedra e pó encurtando
Distâncias ganhou o pão

Traçando estradas
Nos atalhos primitivos
No horizonte do bem longe andejou
Como cobra
Se estendendo nas coxilhas
Novas querências o seu rastro demarcou

Transportou com segurança
Os mantimentos
Para o comércio dos bolichos
Nas estradas

Carreteou cargas de lã
De sal e charque
E a própria história
No ajoujo da boiada

Nas pousadas foi plantando
Vilarejos no ofício
Da campeira geografia
Pelo pago teve amores
Que marcaram qual o canto
Da carreta que rangia

Rasgou o pampa
Em léguas de solidão
E da carreta fez trincheira e fez morada
Fez da lua, do cachorro e dos avios
Companheiros incansáveis das jornadas

Do roda roda do tempo vão sumindo
A junta mansa e a carreta velho trastes
Porém a fibra do remoto carreteiro
Não há tempo ou pedregulho que desgaste


O Disco





LADO A

Léguas de Solidão – Grupo Horizonte
(Humberto Gabbi Zanatta – Luiz Carlos Borges)

.Bailanta do Tio Flor – Grupo Nativo Lixiguana
(Elton Escobar Saldanha)

O Velho Gaiteiro – Grupo Nativo Guará
(Nei Fagundes Machado)

Velho Tripeiro – Grupo Pôr do Sol
(Anildo Lamaison de Moraes)

O Carreteiro – Grupo Nativo Reduções
(Manoel Vargas Loureiro – José Sarturi)

Gineteando – Grupo Nativo Os Aporreados
(José Manoel Silveira Filho – Ataides Souza de Moura)

LADO B

Gaita Gaudéria – Grupo Nativo Reduções
(Horácio Cortes – José Sarturi)

Peleando com a Vida – Grupo Horizonte
(Larri Tadeu Charão)

Meu Canto – João Almeida Neto
(José Luiz Villela – João Almeida Neto)

Fio de Bigode – Miguel Marques e Grupo Boca do Monte
(Antonio Augusto Ferreira – Nelson Canário)

Terra Canção – Grupo de Arte Nativa Santa Fé
(Ottorino Govolo – Ernando Garcia Coelho)