quarta-feira, 28 de abril de 2010

1ª Coxilha Nativista - 1981





Pesquisa e Reportagens: Rômulo Seitenfus

Fotos: Acervo Coxilha Nativista


A primeira edição do festival foi realizada no ano de 1981 na sede do antigo “Cine Rio”. A partir desta data, passou a acontecer todos os anos, como importante evento da terra de Erico Verissimo. Olimpio Copetti foi o responsável pela decoração do ambiente. Para compor a ornamentação, pesquisou a história do Rio Grande do Sul, inspirando-se em características do período de 1720 a 1860, resgatando os principais usos e costumes da época. Foi no couro que Copetti encontrou a fidelidade artística. Os couros Cru, Capim, Santa Fé e Taquaruçu, eram muito usados na construção de ranchos daqueles séculos. Além desse material, foram também utilizados capim, palmeira e taquara para a construção de um “bolicho” de campanha, instalado no palco de apresentação das tertúlias. Os locais decorados por Olimpio foram o bar, o pórtico de entrada, o rancho de recepção e o Parque de Exposições.
A primeira noite, fase local do festival, causou surpresa ao povo cruz-altense que não esperava o sucesso do evento. O público superlotou o “Cine Rio”. O local, que possuía capacidade para 1.300 lugares, teve de acolher aproximadamente 2.000 pessoas que mantiveram-se presentes até o último momento do encerramento. Além das apresentações dos concorrentes, shows animaram o público como Pedro Ortaça e Grupo Pesquisa, de Santa Maria. Renato Borghetti foi presença consagrada, tocando em tres grupos.
Na segunda noite, nem mesmo o atraso irritou a plateia. O público ansiava pelo início da fase regional.
O festival foi marcado por uma tragédia no acampamento do Parque de Exposições. O jovem Gustavo Simões Lopes, da cidade de Pelotas, passou mal por envenenamento e foi levado às pressas até o Hospital Nossa Senhora de Fátima, onde veio a falecer.
Intensa e histórica, a primeira edição do evento ficou gravada na memória dos cruz-altenses. A qualidade das apresentações marcaram o alto nível do evento, com destaque também para a organização. A Comissão Organizadora viu a Primeira Coxilha conquistar a plateia com êxito, principalmente ao que se refere à qualidade das músicas apresentadas, e a distribuição dos prêmios que coincidiu com a satisfação dos aplausos, embora sob protestos de alguns grupos participantes.
A Comissão Julgadora foi composta por José Vassuer, letrista e capataz da Estância Minuano, professor Nair Vieira Soares, tradicionalista e estudioso do folclore rio-grandense, Mário Barbará, músico de São Borja, Milton Souza, pesquisador e apresentador do programa “Hora da Sesta”, de Uruguaiana e Laurinha Garcês, professora de música, intérprete de músicas regionalistas e representante do Departamento Cultural da Secretaria de Turismo de Passo Fundo.
Das 150 composições inscritas, 27 foram selecionadas e constituíram as tres eliminatórias em fase local, regional e estadual. Léguas de Solidão é a grande vencedora.


Vencedoras da Primeira Coxilha Nativista – 1981:

Melhor Pesquisa – Velho Tripeiro – de Anildo Lamaison de Moraes, Troféu “Erico Verissimo” Intérprete Beto Barcellos e Grupo “Por do Sol”

Melhor Conjunto Instrumental – Grupo Horizonte, Troféu “Pedro Missioneiro”

Melhor Intérprete Masculino – João de Almeida Neto, Troféu “Capitão Rodrigo”

Melhor Intérprete Feminino – Oristela Alves, Troféu “Ana Terra”

Música Mais Popular – Gaita Gaudéria, de Horácio Côrtes e José Sarturi (Nenito), com o Grupo Nativo Reduções

A Grande Vencedora – “Léguas de Solidão” de Humberto Gabi Zanata e Luiz Carlos Borges.






A Grande Vencedora

Léguas de Solidão

Letra: Humberto Gabbi Zanatta
Música: Luis Carlos Borges
Intérprete: Luis Carlos Borges e Grupo Horizonte


Em andanças por caminhos
Fez sua vida carreteando
O próprio destino de peão.
Cruzou sanga, cruzou mar,
Pedra e pó encurtando
Distâncias ganhou o pão

Traçando estradas
Nos atalhos primitivos
No horizonte do bem longe andejou
Como cobra
Se estendendo nas coxilhas
Novas querências o seu rastro demarcou

Transportou com segurança
Os mantimentos
Para o comércio dos bolichos
Nas estradas

Carreteou cargas de lã
De sal e charque
E a própria história
No ajoujo da boiada

Nas pousadas foi plantando
Vilarejos no ofício
Da campeira geografia
Pelo pago teve amores
Que marcaram qual o canto
Da carreta que rangia

Rasgou o pampa
Em léguas de solidão
E da carreta fez trincheira e fez morada
Fez da lua, do cachorro e dos avios
Companheiros incansáveis das jornadas

Do roda roda do tempo vão sumindo
A junta mansa e a carreta velho trastes
Porém a fibra do remoto carreteiro
Não há tempo ou pedregulho que desgaste


O Disco





LADO A

Léguas de Solidão – Grupo Horizonte
(Humberto Gabbi Zanatta – Luiz Carlos Borges)

.Bailanta do Tio Flor – Grupo Nativo Lixiguana
(Elton Escobar Saldanha)

O Velho Gaiteiro – Grupo Nativo Guará
(Nei Fagundes Machado)

Velho Tripeiro – Grupo Pôr do Sol
(Anildo Lamaison de Moraes)

O Carreteiro – Grupo Nativo Reduções
(Manoel Vargas Loureiro – José Sarturi)

Gineteando – Grupo Nativo Os Aporreados
(José Manoel Silveira Filho – Ataides Souza de Moura)

LADO B

Gaita Gaudéria – Grupo Nativo Reduções
(Horácio Cortes – José Sarturi)

Peleando com a Vida – Grupo Horizonte
(Larri Tadeu Charão)

Meu Canto – João Almeida Neto
(José Luiz Villela – João Almeida Neto)

Fio de Bigode – Miguel Marques e Grupo Boca do Monte
(Antonio Augusto Ferreira – Nelson Canário)

Terra Canção – Grupo de Arte Nativa Santa Fé
(Ottorino Govolo – Ernando Garcia Coelho)

2 comentários:

  1. Estive lá. Acampado junto com o CTG Manotaço. Tinha 16 anos.
    Por acaso há fotos do acampamento?

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  2. Nasci e morava em Cruz Alta em 1981, quando assisti a convite do Secretário de Turismo "saudoso Baianinho" o encerramento do Festival em um domingo chuvoso. Lembro que o show de encerramento contou com a declamação do poeta Porto Alegrense MARTINS BARBOSA que recitou a poesia TEMPOS DE SAUDADE.

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