sábado, 13 de novembro de 2010

Entrevista com Alex Della Méa: Uma discussão sobre os trinta anos da Coxilha



Entrevista e Foto: Rômulo Seitenfus

Ele presenciou todas as edições da Coxilha Nativista, desde a primeira até a mais recente. Em seu segundo ano consecutivo frente à coordenação do evento, o Secretário de Cultura de Cruz Alta, Alex Della Méa, relembra a trajetória de sucesso, os momentos de crise e os altos e baixos do mais antigo festival que, aos 30 anos ininterruptos mantém-se como o maior festival da história do Rio Grande do Sul. Nesta entrevista, ele discute com o jornalista sobre as mudanças tecnológicas que o tempo apresentou, aponta as músicas mais marcantes dos festivais do estado, relembra canções e artistas que nasceram da Coxilha e reflete sobre estilos musicais como requisitos de festivais. Explica o porquê da Coxilha estar fora de projetos de Incentivo à Cultura, levanta a possibilidade de tornar o evento não-competitivo e esclarece que ainda muitas edições estão por vir. Chegada a tão esperada trigésima edição, o secretário comemora com êxito a sua organização, e se revela um conhecedor nato da história do festival.



O que o senhor lembra da primeira edição da Coxilha Nativista em 1981?
A primeira edição na verdade causou uma expectativa enorme na cidade, porque era uma novidade. O próprio termo “Nativista” era até então pouco usado. Buscou-se um termo semelhante da Tertúlia, talvez até por influência da própria que foi uma espécie de festival modelo para nós, inspirando a Coxilha nos anos 80. As pessoas que organizaram a 1ª edição, foram à Tertúlia de Santa Maria, e trouxeram um modelo para Cruz Alta que depois foi se aprimorando com a participação de muitas pessoas que ajudaram no início. Nomes importantes figuram nesta história. Rubens Dario Soares e Aparício Silva Rillo, tiveram papel fundamental nos primeiros momentos e ajudaram bastante. Pessoas daqui como o grupo Pôr do Sol, da época do Anildo Lamaison, Beto Barcellos, importantes nesse pontapé inicial. Claro que a pessoa mais importante nesse contexto foi o Baianinho (Augusto Sampaio da Silva). Com o apoio do prefeito, Dr. Humberto Ferreira da Silva, Baianinho assumiu a ideia e a prefeitura abraçou-a desde o inicio. Teve um papel fundamental, decisivo, importante porque como secretário, lapidou a ideia, foram até Santa Maria, observaram, espelharam-se na organização de um festival que envolveu uma série de coisas e deram esse pontapé. A Coxilha iniciou lá no antigo Cine Rio e o acampamento, que naquela época os festivais não eram profissionais, eram amadores. Não existia ajuda de custo, os músicos vinham pelo prazer da arte, pela busca do espaço, pela oportunidade de gravar uma música em um LP, porque naquela época para gravar um disco era algo muito difícil.

Porque naquela época só existiam as grandes gravadoras nacionais...Sim, somente as grandes gravadoras. Então não havia essa facilidade que temos hoje de gravar um disco em casa. Tu gravas um disco nos estúdios aqui de Cruz Alta com excelente qualidade. Nos anos 70, início dos anos 80, a coisa era bem difícil. Para os cantores nativistas, os festivais impulsionaram, tiveram um grande salto a partir dos festivais e a Coxilha desempenhou um papel muito importante para eles.
As coisas eram difíceis em outros aspectos também. Lembro da primeira Coxilha em 1981, que foi criado o acampamento na cidade de lona. A Coxilha não foi a pioneira nisso. Essa ideia vem de Santa Maria e de Uruguaiana, da Estância do Minuano que fez a Tertúlia baseado na Califórnia - não foram prefeituras - não é a prefeitura de Uruguaiana e também não foi a prefeitura de Santa Maria e a Coxilha adotou esse modelo de festival, porém organizado pelo poder público municipal.

Que foi um modelo que vigorou até um bom tempo...
Sim, até o período que os festivais começaram a se profissionalizar quando os músicos começaram a gravar seus discos e construir carreiras solo. Então os festivais começaram a oferecer ajuda de custo para os músicos, que não foram mais para acampamentos e passaram a acomodar-se em hotéis. Passaram a ter um cuidado maior com a sua carreira, de uma forma mais profissional. Vários passaram a viver exclusivamente da música.

Em que ano aproximadamente ocorreu essa transformação?
Isso começou com muita intensidade no final dos anos 80. Acredito que até a sexta, 7ª Coxilha, ainda não se pagava ajuda de custo. Os músicos acampavam, porque era a forma mais acessível de ficar na cidade e depois isso começou a tomar outro perfil.
Tanto em Cruz Alta quanto em Uuguaiana, Santa Maria e nos demais festivais.
Hoje, com a profissionalização dos músicos e dos festivais a realidade é outra, bem diferente.


Como foi a transição do local Cine Rio para o Ginásio Municipal?
Essa transição se impôs porque o Cine Rio, que era o maior cinema da cidade, se tornou pequeno para a grandiosidade do evento. Para acomodar um número maior de pessoas buscou-se outra alternativa.
O Ginásio Municipal foi a solução encontrada para acolher o grande público da Coxilha Nativista. Antes da Coxilha, quando aconteciam shows no Ginásio Municipal, os cantores cantavam na quadra mesmo. Eu lembro de ter assistido espetáculos e shows antes da Coxilha Nativista do Ginásio, com as pessoas cantando na quadra. A partir da segunda Coxilha Nativista, e que começou a montar palco no Ginásio, a cada ano montava-se e desmontava-se o palco.
Até a quinta coxilha, foi construído um palco definitivo e se construiu um palco com uma estrutura de concreto que ficou definitivo até hoje como palco fixo.
A Coxilha já está no Ginásio há 29 edições, desde a segunda, e a primeira foi lá no Cine Rio. Tínhamos três cinemas na cidade. O Cine Rex, onde hoje é o calçadão, o Cine Ideal, onde hoje é uma galeria de lojas e Cine Rio, na saída para Ijuí. O Cine Rio era o maior de todos, era grande e possuía espaço para uma platéia bem extensa, e o tamanho apresentava a possibilidade de construção do palco no Cine Rio.

A tecnologia de áudio e os efeitos visuais ainda não haviam alcançado o patamar que se tem hoje, mas é interessante pensarmos que mesmo com essas limitações do início do festival, sempre apresentou qualidade. Quais os maiores desafios enfrentados na linha tecnológica?
No começo de fato não tínhamos tantos recursos técnicos, os instrumentos, por exemplo, não era plugados. Eram todos acústicos mesmo, o artista colocava o microfone na boca do violão, era captação externa mesmo, as gaitas também tinham capacitação externa. Os instrumentos que se usavam eram mais restritos e depois começou a se ter maiores recursos tecnológicos. A Califórnia começou a fazer essa abertura maior para uso de instrumentos mais contemporâneos. Na época não se admitiam determinados instrumentos. Posteriormente, para o bem da música e para a qualidade musical, foi sendo aceita a sonoridade mais evoluída.


Então as pessoas preferiam manter a precariedade tecnológica por resistências culturais?
Porque na música o que importa é a sonoridade que você vai tirar dela, e nós aqui não tínhamos o porquê contemplar os festivais fazendo o uso apenas de um ou dois instrumentos. Na verdade de gaúcho mesmo nós só temos um instrumento musical que é o sopapo, de percussão construído pelos negros lá da região litorânea.
Então não teria o porquê barrar o uso de um piano, violino, violoncelo, ou de um instrumento qualquer. E os festivais foram abrindo esse espaço também para grandes nomes manifestarem e aparecerem no cenário musical do Rio Grande do Sul. Ali no palco da primeira Coxilha, surgiu Jorge Almeida Neto, Renato Borguetti, Elton Saldanha. Alguns já haviam passado em outros festivais, na tertúlia de Santa Maria, na Califórnia de Uruguaiana, mas muitos estavam iniciando a carreira ali e chutavam seu pontapé inicial. A Coxilha Nativista foi muito importante nesse sentido, uma alavanca para o crescimento, para bons nomes da cultura do Rio Grande do Sul.

Em qual edição da Coxilha aproximadamente a tecnologia começou a avançar?
A cada ano ela sofreu modificações. Me lembro no Cine Rio, a sonorização da primeira edição era precária em relação à que temos hoje, e depois quando ela veio para o Ginásio na segunda edição começou a ter uma sofisticação maior. Na terceira edição os violões ainda eram microfonados, com capitação externa de som, eu acho que a partir da quarta ou quinta Coxilha começou a se utilizar os violões com captação interna. Os teclados enfim, começaram a ser usados e outros instrumentos também. Mas não consigo centralizar exatamente foi a edição. Um processo que foi acontecendo aos poucos e os festivais estão até hoje produzindo arte e lançando músicos de renome.

Na questão das mudanças tecnológicas, com a troca do LP pelo CD, as rádios tiveram uma certa dificuldade em mostrar novamente as músicas antigas da Coxilha...
Sim, antigamente as gravações eram feitas em rolo e demorava até quatro meses para chegar o disco. A exceção foi a 4ª Coxilha que saiu uma semana depois do festival. Foi uma coisa muito rápida com aquela polêmica da Morocha e o Patinete, produtor da Som Livre, um cara muito dinâmico. Ele dizia: “Não podemos perder essa oportunidade! Não podemos perder essa”. E não deu sete dias e o disco já estava pronto. Foi prensado no Rio de Janeiro pela Som Livre, vendeu quase sete mil cópias, uma coisa fantástica! Quando se refere hoje a hits, a gente ouve as pessoas comemorando: Fulano vendeu um milhão de cópias! É outra realidade e o caso de um evento cultural de festival com músicas variadas na época, uma coletânea vender cinquenta mil cópias, era uma coisa inimaginável ainda é até hoje. Então vender cem mil cópias é disco de ouro. Realmente aquele disco foi uma exceção. Agora essa mudança que tu dizes, para os festivais foi muito benéfica, barateou muito o custo nesse sentindo e o avanço das tecnologias para os festivais foi muito bom.

Mas ao mesmo tempo houve uma queda dos festivais...
Não, essa queda se deu muito por desinteresse de público. Muitos festivais caíram por interesses políticos, porque assim: O prefeito fazia um festival e então entrava um outro prefeito e não continuava as edições daquele festival ou fazia com outro título, então era muito descabido. Nós chegamos a ver cidades com três, quatro festivais de títulos diferentes mas que realizou uma ou duas edições e não realizou mais.
Felizmente a Coxilha foi uma exceção e isso garantiu sua permanência.
Então na verdade teve isso também, teve a questão da profissionalização geral dos festivais que se tornaram caros. Um evento como a Coxilha Nativista hoje, de oito dias de festival, é muito caro. Você tem de investir muito em cultura para fazer isso. Temos de manter a ajuda de custos dos artistas, investir em uma sonorização de qualidade, uma iluminação de qualidade, uma gravação de CD e DVD de qualidade, então quer dizer que temos de investir na qualidade total do evento, além é claro, do custo do cachê dos shows. Os shows hoje não são coisas baratas, até porque os artistas todos se profissionalizaram. Hoje a grande maioria vive exclusivamente da música. No início dos festivais os artistas tinham outras profissões e a música era um hobbie, era algo paralelo em sua vida. Hoje não, a grande maioria, 95% dos músicos vive exclusivamente da sua arte, do seu talento.

Se uníssemos os discos mais importantes da Coxilha com os também importantes de outros festivais, teríamos uma enorme relíquia cultural nativista. Se isso fosse possível, quais os festivais e discos o senhor gostaria de citar nesse exato momento?

Se fizermos um levantamento das 100 músicas que fizeram sucesso no estado do Rio Grande do Sul de 1981 para cá, no mínimo vinte delas são da Coxilha Nativista. E veja. Quantos festivais nós tivemos nesse período? Mais de setenta festivais. Temos discos que são de fato verdadeiras relíquias. Os discos da 4ª e 5ª Coxilha, juntamente com o da 10ª e 11ª Califórnia e também do 1º Musicanto, são verdadeiros achados da fonografia regional brasileira. Se juntássemos esses cinco LP’S da época, teríamos um álbum maravilhoso porque ali temos Recuerdos da 28, e Veterano, da 10ª Califórnia e mais um manancial fantástico da 11ª Califórnia: Desgarrados, Sabe Moço, Semeadura. Do 1º Musicanto, No Sangue da Terra Nada Guarani, Uma Canção Pra Minha Prenda, Vozes Rurais. Juntando esses LP’S e pegando, por exemplo, da 4ª Coxilha, temos cinco músicas nessas mostras de quarenta e por pouco não temos mais.
Temos Deja Hoje, Morocha, Morada, Palavra Bendita, e Gaitita, além de tantas outras da 4ª Coxilha. Na 5ª Coxilha temos Vento Norte, Segredos do Meu Gambicho, que são músicas que fizeram sucesso e fazem parte da história cultural do Rio Grande do Sul. Veja bem. Eu te citei cinco discos de festivais que saíram verdadeiros hinos da música do Rio Grande do Sul. Essa é a importância desses festivais e por isso que os bons não morrem, porque tem esse caráter e esse respeito da classe artística.

Quais os estilos que caracterizam a Coxilha e a diferenciam de outros festivais?
Aí tu vais analisar que um festival pode ser campeiro. Mas com que sotaque campeiro?
O campeiro da fronteira? O campeiro missioneiro? O campeiro serrano? Existem várias formas de um festival ser campeiro. A Coxilha eu te diria que é bem eclética, por exemplo, se tu pegares o Martin Fierro, de Livramento, é um festival extremamente fechado que toca músicas de fronteira com sotaque bem carregado fronteiriço, essa pegada da milonga. Se tu não entrares nesse estilo, estarás fora do festival. O Musicanto, por outro lado, é um festival extremamente aberto. A Moenda, por exemplo, de Santo Antônio da Patrulha é contemporânea, de música popular, mas que aceita a música nativista também e são festivais completamente abertos. A Coxilha está em meio a esses extremos, sua marca fundamental é o ecletismo. Porque a nossa formação cultural é eclética. Somos uma mescla de todos esses sotaques, do castelhano ao biriva, paulista, sorocabano, do missioneiro ao imigrante, gringo ao alemão. Não temos uma marca única, fundadora ou predominante e isso se reflete na Coxilha. Talvez por isso ela esteja tão forte e há tanto tempo, porque contempla a todos. Faz parte da nossa história, da nossa cultura, como fomos formados.

E qual a explicação cultural para essas diferenças?

Porque Cruz Alta não é uma cidade de fronteira, não tem aquele sotaque de fronteiriço. Não tem tradição das estâncias na sua história e considero um equívoco, por exemplo, desejar que o nosso festival se vincule a cantar a história da estância porque Cruz Alta não é terra de estancieiros. Cruz Alta tem outra formação e não se formou nas estâncias. Quem introduziu as estâncias do Rio Grande do Sul foram os padres jesuítas, mas as estâncias dos povoados missioneiros se espalharam pelo território. Ficou mais marcado na região da fronteira e campanha, no pampa gaúcho propriamente dito. Cruz Alta aceita essa música com sotaque da fronteira, aceita a música com esse sotaque missioneiro, aceita a música serrana e a urbana também. São exemplos assim que eu uso para dizer na música da fronteira que temos vários ícones, por exemplo: Adair de Freitas, que para mim é a maior expressão da música da fronteira na região de Santana do Livramento, assim como o Nelson Cardoso, também da mesma região da fronteira do lado de Uruguaiana. Tem César Passarinho, João de Almeida Neto, que é outro perfil de estilo fronteirista. Dentro da própria fronteira existem estilos distintos. Na música missioneira, por exemplo, não participavam de festivais concorrendo Noel Guarany, Cenair Maicá, Pedro Ortaça... Mas tem uma música - com essa característica que participou dos festivais - do Valdomiro Maicá, irmão do Cenair Maicá. Ele cantou várias vezes nos festivais e Cruz Alta aceita, até porque é uma cidade bem próxima da região missioneira. Tem esse sotaque missioneiro, como aceita o sotaque serrano também, que é essa música mais de baile.

O público da Coxilha também aceita bem a música urbana...
Sim, tanto que nós temos, por exemplo, Procissão, uma música lindíssima que venceu a 12ª Coxilha, música bem urbana e é uma música maravilhosa. A Coxilha aceita o que é bonito. Temos também na mesma edição Entrando no Bororé, uma música extremamente campeira, com sotaque missioneiro, estilo e pegada missioneira. O Rio Grande é múltiplo, ele não é uma coisa única. É um equivoco alguém querer dizer que só é gaúcho quem canta tal e tal música. O Rio Grande tem um matiz musical diverso e que representa no palco da Coxilha Nativista.


Quais as músicas que o senhor citaria de toda a história nessas três décadas de Coxilha Nativista?
Na primeira Coxilha temos Léguas de Solidão, uma música vencedora com um sotaque de campo, do Luiz Carlos Borges. A Morocha, por toda a sua popularidade. Uma música bem marcante que também temos é Bailanta do Tio Flor, vaneira maravilhosa com sotaque de campo do Elton Saldanha. Vencendo a segunda Coxilha, Terra Saudade, que não podemos dizer que é uma música campeira, mas um hino popular de Cruz Alta e que faz uma referência histórica.


O senhor citou a Morocha, que foi a música mais polêmica da história dos festivais. Ela é uma sátira ao machismo exagerado e inclusive teve discussões em mídias nacionais naquele ano de 1984...
Teve, o disco da 4ª Coxilha que foi produzido pelo Airton dos Anjos, que é o popular Patinete, ele é de Porto Alegre, esteve conosco agora fazendo as seleções das músicas que vão fazer parte da mostra histórica da Coxilha. É um produtor musical consagrado no Brasil, Produziu o disco na época pela Som Livre, a gravadora da Rede Globo. Quem diria. Esse disco então foi o que até hoje na Coxilha, teve o recorde de vendas de discos de festivais no Rio Grande do Sul, em função da polêmica da Morocha, que se estendeu Brasil afora. Com certeza ali a Coxilha adquiriu a maior idade, ali a Coxilha ficou conhecida no Brasil inteiro e ali a Coxilha passou a ser uma referência para os festivais do Rio Grande do Sul.

A Coxilha teve um ápice em sua história. Até quando ela manteve-se em alta?
Os festivais estavam brotando muito em várias cidades e esse ápice veio até a virada dos anos 90 e, por incrível que pareça, ele culminou o advento das gravações solo dos cantores. Antigamente quando uma pessoa queria escutar o Leopoldo Rassier, tinha de comprar um disco da Califórnia, da Coxilha, da Tertúlia, para escutar o Leopoldo, e também outros cantores como o César Passarinho, o João de Almeida Neto - quando gravaram os seus discos solo, os festivais começaram a perder espaço. Veja bem. Os festivais que os projetaram passaram a perder o espaço para os seus próprios filhos.
Porque o público começou a dar mais ênfase aos discos solo do que aos discos dos festivais.

E os discos dos festivais passaram a vender menos...

Tanto que hoje os discos de festivais, são raríssimas exceções - como será nossa Coxilha nesse ano - eles não fazem mais parte do circuito comercial. A Coxilha está voltando a fazer parte neste ano, após quase vinte anos fora desse circuito. Agora vamos fazer um contrato com a gravadora que vai nos permitir isso, a voltar ao circuito comercial, voltar a estar nas lojas, nos mercados que vendem discos. Mas o público voltou aos festivais, os grandes intérpretes também. Estamos praticamente com a mesma representatividade dos anos 90.



A Coxilha não possui hoje nenhuma ajuda de um projeto de incentivo à cultura?

Não, nós tentamos a Lei Rouanet. Conseguimos mas fora de tempo hábil para a captação dos recursos, que é o mais dificil. Lastimamos muito isso. Como é a Prefeitura Municipal, o proponente e entramos em um período eleitoral, isso nos dificultou. Não temos nenhum apoio nesse ano, nem da Lei de Incentivo à Cultura. Temos alguns apoios culturais direto de empresas, mas em termos de auxilio direto, como o material de divulgação, a exemplo da empresa jornalística Correio do Povo, que nos auxilia na mídia para o evento, a Ouro e Prata, que nos concede transporte, e a Universidade de Cruz Alta - Unicruz, que nos fornece o material de divulgação de sua gráfica. Então nesse ano temos apenas o apoio direto de algumas empresas.

A questão da possibilidade de o festival competitivo vir a se tornar apenas uma mostra não-competitiva futuramente. Isso existe mesmo?
Isso é o que nós vamos discutir e pensar ao longo da trigésima edição. Vamos ver como é que vai ser, como é que vai se dar essa questão da mostra. Vamos analisar como o público vai aceitar a ideia porque, isso é uma grande incógnita e também teremos de ver com os participantes.

Mas então a Coxilha corre o risco de estar perto de acabar?
Não, de forma nenhuma. O que pode acabar é a competição, talvez adotarmos o modelo latino-americano das mostras não competitivas. Nosso evento passou por um período mais crítico, hoje vive uma revitalização que com certeza vai garantir sua permanência ainda por muitos anos.
Eu já participei de Coxilhas Nativistas, com menos de duzentos pessoas no ginásio.
Logo quando comecei, que participei como compositor, já tivemos a Coxilha Nativista com mais de quatro mil pessoas no ginásio. Na terceira, quarta e quinta edição, o ginásio esteve lotado, mas tivemos edições também ali por volta da vigésima, em noites de sexta-feira com menos de duzentas pessoas nas arquibancadas do ginásio. Então queremos impulsionar para que a Coxilha seja cada vez melhor, cada vez maior. Esse é o nosso intuito. Essa hipótese, essa ideia da mostra, é uma coisa que pode vir a acontecer ou não, vai depender da resposta do público e também daqueles que atuam diretamente na Coxilha.

E, ao mesmo tempo, considerando toda a história, está se mantendo há trinta edições, o que já é uma vitória para o festival...
Sem duvida temos um festival à duras penas há trinta edições acontecendo. É uma vitória significativa, sem dúvida nenhuma.


A que o senhor atribui essa durabilidade toda, essa resistência ao tempo?

Eu acho que há vários aspectos, mas dois bem importantes. Um é a persistência dos que se mantiveram fazendo, coordenando, assumindo essa responsabilidade e outra fundamentalmente do povo, o público na medida em que levamos a Coxilha de volta ao encontro com a plateia, seja na parte musical ou da organização, assim tivemos respostas positivas do público e isso faz com que a Coxilha seja o que ela é até hoje, há quase três décadas uma história de vencedores.

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